Esperança para você

No evangelho de João, encontramos a narrativa de uma cena muito interessante. O Senhor Jesus Cristo estava fazendo uma viagem, e precisava passar por uma província chamada Samaria. Então lemos o seguinte trecho da história: “Chegou a uma cidade samaritana, chamada Sicar (…). Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta [1].”

Cansado da viagem! Que detalhe impressionante! Sem dúvida, o testemunho bíblico é que Jesus Cristo era o próprio Deus, que desceu ao mundo na forma humana. Então imagine isso: o próprio Deus estava se sentindo cansado! Não é curioso? Porquê isto aconteceu? Ele não era Deus? E Deus não deveria se cansar, certo?

Na verdade, esta não é a única vez que nos impressionamos com este tipo de relato. Em outras ocasiões, vemos o Senhor Jesus em situações que são extremamente típicas de humanos. Por exemplo, vemos o Senhor sentindo fome [2] e até chorando numa situação triste [3]. Eu não sei quanto a você, mas eu consigo ver a beleza que há em tudo isso, de forma que é até difícil descrever em palavras. Vou apenas me arriscar a tecer um singelo comentário sobre isso!

A princípio, são dois cenários de muito contraste. De um lado, o Senhor Jesus é aquele que criou tudo, sustenta tudo, conhece e domina tudo e pode todas as coisas. Por outro lado, o vemos descendo à Terra e passando pelas mesmas coisas que os homens passam. Você poderá entender isso se souber exatamente o real motivo de Ele ter vindo a este planeta. Você sabe? Eis a resposta: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido [4].” Foi para isso que Ele pôs os seus formosos pés neste mundo triste: para salvar e chamar para Si o homem perdido.

Em tudo isso, vemos toda a extensão das belezas mais intensas do caráter de Cristo. Sim, que compaixão, que amor, que graça! Estava Ele do lado lado de lá, cheio de honra e glória, e estava o homem do lado de cá, separado de Deus e cheio de miséria. Ele não esperou que o homem fosse até Ele; pelo contrário: o Filho do Homem veio. Para ir até o homem, Ele escolheu verdadeiramente se rebaixar até ao nível mais baixo que poderia chegar. Ele não somente desceu do céu para pisar onde os homens pisam – não foi somente uma humilhação neste sentido, mas foi no sentido mais completo possível: revestindo-se da forma humana, ele passou por todas as circunstâncias que um homem pode passar. Ele sentiu fome, cansaço e tristeza ao ver no mundo a ação do pecado. Ele foi um verdadeiro humano.

Para tornar-se homem, porém, Ele precisou de assumir a forma de um corpo. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós [5].” Isto é extremamente importante e notável, mais do que se possa imaginar. Cristo deixou para os seus seguidores um mandamento bem claro: todo primeiro dia da semana, os salvos devem reunir-se e tomar sua parte de um pão e de um cálice de vinho – este pão representa este seu bendito corpo, o qual estamos falando. Porquê é importante lembrar-se deste corpo?

No sentido físico, este corpo nos fala de amor do princípio ao fim. Foi preciso muito amor para Cristo Jesus descer lá de cima e fazer-se humano. Da mesma forma, foi preciso muito amor para ir até a cruz, sofrer diversas atrocidades e morrer com muitas dores – portanto, este mesmo corpo fala de amor tanto nos seus primeiros como nos seus últimos dias de existência. Este corpo que recebeu o próprio Deus é o mesmo corpo que foi mutilado, ensaguentado, ferido, cuspido, perfurado, cortado, esbofeteado e muito mais. Foi um corpo que, em um de seus últimos dias, pôde ser visto pintado da cor vermelha, pois estava banhando em sangue e pendurado numa cruz. Para quem acha que estou exagerando, o relato bíblico é que Ele apanhou tanto naquele dia que sua face estava praticamente irreconhecível: “Como pasmaram muitos a vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens) [6].”

Este corpo que foi desfigurado por mim e por você, seguramente, é o mesmo que aquele dia se cansou da viagem e sentou-se junto àquela fonte. Ninguém menos do que Jesus Cristo, tão admirável, tão amável, tão adorável – podemos nos dar ao luxo de vê-lO ali, exausto da viagem, procurando um lugar para descansar. Uma cena belíssima, pois acima de tudo, não era uma demonstração de fraqueza, e sim uma demonstração do amor mais puro e intenso que pode existir. Você já confia neste Senhor? Já pôde vê-lO na cruz sofrendo como um inocente, no seu corpo, o preço que era exclusivamente nosso?

[1] João 4:5,6

[2] Lucas 4:2

[3] João 11:35

[4] Lucas 19:10

[5] João 1:14

[6] Isaías 52:14