"Porque temos de morrer e somos como águas derramadas na terra, que já não se podem juntar." (2 Sm 14:14)

Acolhendo um rejeitado

Posted on 01:54 | By Matheus Emerich | In

O evangelho de João começa de uma maneira notavelmente interessante. Logo nos versículos iniciais, nos é dada uma visão bem majestosa de Cristo: podemos vê-lO nos céus, antes de todas as coisas, acima de todas as coisas, criando tudo para sua própria glória. Podemos imaginá-lO, nos dias da criação, como sendo o próprio tema para todas as maravilhas criadas pelo dedo de Deus. Podemos imaginar o céu cheio de louvores e cânticos sublimes, como poesias cheias de graça e harmonia, que tinham o Senhor Jesus como sendo a mais alta fonte de inspiração. Bom, mas no decorrer dos versículos de João, esta imagem vai se desvanecendo sutilmente. Logo adiante, vemos o Filho de Deus abandonar essa atmosfera elevada e descer ao mundo; e, ao contrário do que recebia lá em cima, o que achou por aqui foi puro desprezo e descaso por parte dos homens.

Cristo, que nos céus podia ouvir dos anjos uma doce melodia em louvor de sua própria pessoa, veio para a Terra e ouviu palavras de deboche, escárnio e maus tratos - uma troca bem curiosa, não acha? Acontece que aqui não havia lugar nem ambiente para Ele - era um Homem justo demais, certo demais, verdadeiro demais, humilde e simples demais; não se enquadrava no perfil desejado pelo mundo. Ah! Este mundo tão indigno da bondade que Ele revelou com seus gestos, este mundo triste e sujo, se deu ao luxo de rejeitar o Ser mais bondoso que por aqui já pisou! Não poderiam achar-se em seu rosto afeições de maldade nem ódio, mas o mundo premiou esta face tão adorável com uma coroa de espinhos. A face que estava sempre disposta a sorrir, oferecendo graça a todos, agora recebia, como recompensa injusta, grandes espinhos que desfiguravam todo o semblante - os sorrisos não puderam resistir, dando, naquele dia, lugar a expressões de dor. Esta é uma verdade que, apesar de vergonhosa para todos nós, não se pode negar: neste mundo, o Senhor Jesus Cristo encontrou a forma mais hostil de uma rejeição crua. E Ele não merecia isto!

Foi Ele mesmo quem disse: "As raposas tem seus covis, e as aves do céu tem ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça" [1]. Não havia abrigo para Ele! Tudo começou logo no seu nascimento: veio ao mundo numa manjedoura pobre, porque não havia lugar para os seus pais nas pousadas e estalagens. O que você sentiria nesta posição? Quais sentimentos dominariam o teu coração, se você carregasse por toda a sua vida uma rejeição por parte do mundo inteiro? "Era o mais desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso" [2].

Diante desta questão, devemos nos perguntar: se Ele era tão bondoso, porquê houve tanta rejeição? Porquê tanta hostilidade? Seguindo em frente no evangelho de João, iremos encontrar a resposta de maneira bem enfática: "A luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, afim de não serem argüidas as suas obras" [3]. O "problema" era que Ele irradiava luz demais; e essa luz evidencia toda a maldade do coração do homem, pondo toda a iniquidade em relevo. E os homens, apaixonados por seus pecados, mantendo o coração como que de pedra, preferiram apagar a luz ao invés de abandonar as suas próprias práticas, cedendo assim à ação transformadora desta luz.

Devo informar-te que essa situação persiste até hoje. Desde aquela época, o mundo não melhorou nem um por cento, e portanto a sua atitude para com Cristo continua sendo exatamente a mesma: rejeição e desprezo. Este Senhor não tem nada de interessante para apimentar os maus desejos desta sociedade! Como naquela época, ainda não há espaço para Ele! Por isso, seguí-lO é, necessariamente, dar lugar em tua vida para o mais desprezado dentre todos - é nadar contra a correnteza, é negar o curso deste mundo. Pensando nisso tudo, podemos notar esta importante característica de crer em Cristo: invariavelmente, tudo gira em torno de acolher um rejeitado!

"O Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome" [4]. É quase que literalmente abrir a porta quando todos a fecharam; é convidá-lO a entrar, recebendo-O com disposição. "A todos quantos o receberam", diz o versículo - receberam-nO crendo em seu nome.

Quanto aos que não crêem, diz-nos um texto: "não acolheram o amor da verdade para serem salvos" [5]. Tudo se trata de, afetivamente, acolher ao Senhor Jesus. Talvez se pense que se estará, assim, fazendo um favor para Ele ao acolhê-lo; mas, uma vez abrigado por você, verás que todo o benefício é exclusivamente teu. Quando Ele acha hospedagem em um coração, Ele traz consigo paz, descanso para a alma e satisfação nas coisas puras - traz consigo esperança para você. Na verdade, não há nenhum hóspede tão gracioso como o Senhor Jesus. Ao vê-lO do lado de fora, porquê você não toma a decisão de acolher este bendito rejeitado? Sim, estou falando de seguí-lO e viver ao lado dEle. Estou falando de dizer: "Senhor, sei que não achas lugar para Ti neste mundo; mas em meu coração há, sim, lugar para a Tua pessoa! Retira o pecado que há em mim, para que venhas habitar aqui. Quero viver a graça de acolher-Te e obedecer-Te, coisas das quais eu sou indigno." Sim: tudo, do início ao fim, trata-se de acolher um rejeitado.

[1] Mateus 8:20
[2] Isaías 53:3
[3] João 3:19,20
[4] João 1:10-12
[5] 2 Tessalonicenses 2:10

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