"Porque temos de morrer e somos como águas derramadas na terra, que já não se podem juntar." (2 Sm 14:14)

“Deus me ajudou”

Posted on 14:09 | By Matheus Emerich | In

Uma das coisas impressionantes da bíblia são as profecias que Cristo cumpriu. Peço que você, carinhosamente, analise esta a seguir: “Ofereci as costas aos que me feriam, e as faces, aos que me arrancavam os cabelos; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam. Porque o Senhor Deus me ajudou, pelo que não me senti envergonhado; por isso, fiz o meu rosto como um seixo e sei que não serei envergonhado” [1]. Os judeus esperavam um Messias que viesse reinando, com muito poder e cheio de ostentação; mas, ao invés disso, o Messias veio em forma de servo humilde e ninguém acreditou nEle. Este texto, do livro de Isaías, é uma das muitas profecias que narram os Seus sofrimentos. No entanto, você reparou em uma das frases deste trecho? “Porque o Senhor Deus me ajudou.” Na situação pela qual passava o Senhor Jesus Cristo, nós iríamos considerar como ''ajuda'' qualquer socorro que nos livrasse daquela opressão. Na nossa avaliação natural, a ''ajuda'' teria de ser o livramento dos inimigos, a anestesia das dores ou algum tipo de redução dos sofrimentos. Mas não foi isso o que aconteceu: Jesus Cristo foi surrado até Seu último pedaço de carne, e humilhado até Seu último resquício de moral. Como então Ele diz que Deus o ajudou naqueles instantes? Que tipo de ajuda foi essa?

Antes de mais nada, é preciso relembrar que Jesus Cristo realmente queria pagar pelos nossos pecados. Antes dos Seus momentos de cruz, ele passou um tempo em oração, em um jardim chamado Getsêmani. Somente o evangelista Lucas deu-nos o relato de algo interessante ali: “E, estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” [2]. Lucas era médico, e descreveu a situação como um bom clínico. Segundo Dr. Barbet, um especialista francês que analisou os sofrimentos de Cristo, “o suar sangue, ou "hematidrose", é um fenômeno raríssimo. Se produz em condições excepcionais: para provocá-lo é necessário uma fraqueza física, acompanhada de um abatimento moral violento causado por uma profunda emoção, por um grande medo. O terror, o susto, a angústia terrível de sentir-se carregando todos os pecados dos homens devem ter esmagado Jesus. Tal tensão extrema produz o rompimento das finíssimas veias capilares que estão sob as glândulas sudoríparas, o sangue se mistura ao suor e se concentra sobre a pele, e então escorre por todo o corpo até a terra.” O Senhor Jesus estava extremamente angustiado, pois Ele previa que nossos pecados estavam prestes a moê-Lo na cruz. Ele estava exausto só de o momento estar se aproximando. Como pôde não desistir? Como pôde não recuar? Simplesmente porque ''Deus O ajudou''.

Capturado pelas autoridades judaicas e já nas mãos dos tiranos romanos, começava a hora da tortura. Diz-nos a bíblia que, entre outras atrocidades, o Senhor foi ''açoitado''. Em suas costas, abriram-se longos sulcos e vergões; a pele não resistia aos chicotes que foram utilizados – os instrumentos de flagelação eram geralmente tiras de couro atadas, nas pontas, a pequenas bolinhas de chumbo ou pedaços de ossos. Provavelmente, os joelhos não aguentaram e cederam: o Senhor tão bendito caía na poça do seu próprio sangue, que ia aumentando embaixo dEle. Perto do que iria sofrer, isto não era nada. Como pôde continuar a se entregar assim? Porque “Deus O ajudou.”

Fizeram dEle um espetáculo para se divertir. Os soldados romanos espancavam com violência, e as suas risadas matariam qualquer um de ódio – eles estavam se divertindo. Mas Cristo se sacrificou por eles também, pois também os amava. Na hora de retirar a sua túnica, esta já estava colada em sua pele ferida e ensanguentada. Dr Barbet diz-nos em sua análise: “Os carrascos despojam o condenado, mas a sua túnica está colada nas chagas e tirá-la é atroz. Alguma vez vocês tiraram uma atadura de gaze de uma grande chaga? Não sofreram vocês mesmos esta experiência, que muitas vezes precisa de anestesia? Podem agora vos dar conta do que se trata. Cada fio de tecido adere à carne viva: ao levarem a túnica, se laceram as terminações nervosas postas em descoberto pelas chagas. Os carrascos dão um puxão violento. Como aquela dor atroz não provoca uma síncope?” Cada minuto era uma nova dor que causava náuseas. Como Seus pés tão benditos, que machucavam no solo cheio de pedregulhos, ao carregar uma cruz pesada, sim, como estes pés não enfraqueceram? Como Ele pôde resistir e completar o percurso? Porque “Deus O ajudou.”

Nem preciso dizer dizer nada sobre os pregos nas mãos, ou os grandes espinhos no couro cabeludo. Será que conseguimos imaginar a dor aguda e estonteante de um nervo parcialmente rompido? Vou deixá-los, porém, com mais alguns trechos do artigo do médico francês: “A pobre cabeça de Jesus inclinou-se para frente, uma vez que a espessura do capacete [de espinhos] o impedia de apoiar-se na madeira. Cada vez que o mártir levanta a cabeça, recomeçam pontadas agudíssimas. Pregam-lhe os pés. Ao meio-dia Jesus tem sede. Não bebeu desde a tarde anterior. As feições são impressas, o vulto é uma máscara de sangue. A boca está semi-aberta e o lábio inferior começa a pender. A garganta, seca, lhe queima, mas ele não pode engolir. A respiração se faz, pouco a pouco mais curta. O ar entra com um sibilo, mas não consegue mais sair. Jesus respira com o ápice dos pulmões. Tem sede de ar: como um asmático em plena crise, seu rosto pálido pouco a pouco se torna vermelho, depois se transforma num violeta purpúreo e enfim em cianótico. Jesus atingido pela asfixia, sufoca. Os pulmões cheios de ar não podem mais esvaziar-se. A fronte está impregnada de suor, os olhos saem fora de órbita. Que dores atrozes devem ter martelado o seu crânio! Mas o que acontece? Lentamente com um esforço sobre-humano, Jesus tomou um ponto de apoio sobre o prego dos pés. Esforçando-se a pequenos golpes, se eleva aliviando a tração dos braços. Os músculos do tórax se distendem. A respiração se torna mais ampla e profunda, os pulmões se esvaziam e o rosto recupera a palidez inicial. Porque este esforço? Porque Jesus quer falar: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem". Ele ainda reuniu todas as forças e todo o vigor que ainda existiam no seu corpo, para invocar o perdão para aqueles que o crucificavam! Sete frases foram ditas na cruz, e a cada uma delas o mesmo sacrifício era necessário. Isso não era sobre-humano? Como Ele não pôde se ressentir? Como foi manso e calado até o fim, sem desistir da sua árdua missão? “Deus O ajudou.”

Não foi uma ajuda no sentido de livrá-Lo dos terrores daquele dia. Foi uma ajuda – impressionante! – para que Ele resistisse até o fim. Deus o fortificou, para que Ele convertesse cada grama de energia em puro sofrimento. Ele pagou o nosso preço com o seu sangue – sangue que vertia de todo o seu corpo. Isso não te comove? Será que Ele era apenas um louco, destruído até o fim por causa de sua insensatez, ou será que Ele sabia exatamente o que estava fazendo? Uma coisa é verdade: foi movido naqueles instantes pela ajuda do Pai e pelo amor por mim e por você. Será que Ele não é verdadeiro? Será que não tem razão ao intimar o nosso arrependimento e entrega?

[1] Isaías 50:6,7
[2] Lucas 22:44

Se quiser ver o artigo do Dr. Barbet na íntegra: http://www.irmaos.com/pdf/imprime.php?tarefa=imprime&nome=almanaque&id=779

Comments (0)

Postar um comentário